Se você está considerando um tratamento de reprodução assistida, provavelmente uma das suas maiores preocupações é com as chances de sucesso, não é mesmo? Afinal, sabemos que o caminho por uma FIV tem seus altos e baixos, e a decisão por começá-lo pode ser desafiadora.
Se você já ouviu um pouco sobre as chances de sucesso e as famosas taxas cumulativas, mas tem dúvidas sobre o assunto, espero que esse artigo possa ajudar! Continue a leitura!
O que é a fertilização in vitro (FIV)?
Primeiro, vamos relembrar o que é a FIV. Esta é uma técnica de reprodução assistida em que os óvulos são fertilizados pelos espermatozoides fora do corpo, em um laboratório de reprodução humana. Depois que os embriões se formam, eles estão prontos para serem transferidos ao útero, com o objetivo de que consigam implantar para estabelecer uma gestação bem-sucedida.
Quais as chances da primeira tentativa?
A primeira tentativa de FIV geralmente vem acompanhada de um misto de sensações: a ansiedade e as expectativas de logo poder ter o positivo em mãos, mas também o receio e as incertezas do que pode ocorrer pelo caminho.
Para estimarmos as chances de sucesso, é importante levar em consideração diversos fatores, e este aconselhamento deve sempre ser realizado de forma individualizada e transparente, após consulta médica. De forma geral, a taxa de sucesso da primeira tentativa de FIV pode ser próxima de 30% a 60% para mulheres abaixo dos 35 anos, de acordo com dados da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE).

Com o passar da idade, as chances de sucesso tendem a apresentar redução progressiva, em função principalmente da tendência a redução em quantidade e qualidade dos óvulos. No entanto, para o aconselhamento sobre taxas de sucesso, é fundamental que sejam avaliados também outros fatores, como:
- Qualidade dos Embriões: Nem todos os embriões formados podem apresentar boa classificação morfológica e bom potencial celular de desenvolvimento, bem como nem todos possuem a carga genética adequada para o desenvolvimento (embriões euploides).
- Fatores Masculinos: Assim como as questões do óvulo são de extrema importância, a qualidade dos espermatozoides também é crucial para otimizarmos a formação de embriões, em quantidade e qualidade.
- Saúde do Útero: Problemas no endométrio, desde alterações anatômicas (miomas na cavidade, pólipos endometriais) a alterações do ambiente endometrial como um todo (como a endometrite) podem também impactar na chance do embrião conseguir se implantar adequadamente.
- Outras alterações: um fator muito importante que pode impactar nas taxas de sucesso da FIV é a presença de hidrossalpinge, uma espécie de dilatação das trompas. Quando há este diagnóstico, a orientação é que seja corrigido este achado antes de transferirmos os embriões ao útero.
É importante lembrar que cada caso é único, e a primeira tentativa permite entender melhor sobre estas e outras variáveis importantes para o tratamento, tornando possível a discussão de alguns ajustes que possam otimizar futuras tentativas, caso necessário, com o objetivo de aumentar as chances de sucesso em ciclos subsequentes.
A segunda tentativa tem mais chances?
A boa notícia dos tratamentos de reprodução humana é que as chances de sucesso tendem a ser cumulativas. Porém, o que isto significa? Basicamente, quando falamos em chances cumulativas, o conceito é o de que conforme temos novos embriões passando ao útero bem preparado, aumentamos as possibilidades de que algum daqueles embriões tenha realmente o potencial necessário para implantar, e que tenhamos um endométrio promovendo ambiente apropriado para a sua implantação.
Portanto, para deixar mais claro o conceito, não significa que a segunda tentativa é necessariamente um percentual maior de sucesso, mas sim, que o casal que já está passando pela segunda ou mais tentativas, dará maiores chances de termos o melhor embrião, no melhor endométrio.
Outro ponto importante para novas tentativas, conforme abordado acima, é o fato de que podemos ter mais informações do seu caso, facilitando alguns possíveis ajustes de estratégias, como por exemplo.
- Otimização de questões relacionadas aos óvulos: sabemos que no tratamento, nosso objetivo é ter o melhor número e qualidade possível de embriões. Portanto, caso seja necessária uma nova estimulação, a primeira pode ter fornecido informações importantes para discutir possíveis ajustes em um novo ciclo. Também após uma primeira tentativa, em alguns casos, podem ser discutidos ajustes de rota como uso de óvulos doados, o que pode aumentar as chances de sucesso de alguns casais.
- Possíveis investigações adicionais: em um primeiro tratamento, caso tenha sido aventada alguma hipótese de alteração após avaliar a evolução do tratamento, haverá possibilidade de discutir a viabilidade desta investigação antes de prosseguir.
- Mudanças de estratégias com relação aos embriões: Em alguns casos, para novas tentativas podem ser discutidas questões como cultivo embrionário até blastocisto ou a análise genética dos embriões. Para esta decisão, devemos sempre pesar os prós x contras individualmente.
Estatísticas de sucesso
As estatísticas nos auxiliam a entender melhor o que esperar do tratamento. Porém, como sempre gosto de frisar com minhas pacientes, é importante termos cuidado para não nos “rotularmos” e acabarmos nos esquecendo de que cada caso é único, com suas particularidades, possíveis vantagens e desvantagens que tenhamos a chance de encontrar pelo caminho.
Pensar também nas chances cumulativas de sucesso é uma ferramenta importante para nos mantermos firmes, mesmo após o negativo, caso ele ocorra. Também é importante para uma visão mais racional (na medida do possível) do tratamento, para minimizar possíveis frustrações que poderiam acabar levando inclusive à desistência do tratamento – este, sim, sendo um fator que limitaria a maior chance que poderíamos dar ao tratamento, a de continuarmos!
Se você leu até aqui, vou deixar o link de uma calculadora de taxas de sucesso validada internacionalmente, que pode te ajudar, mas lembre-se que nunca podemos interpretar os dados isoladamente sem a devida avaliação e aconselhamento de uma equipe médica especialista.
Lembre-se sempre, assim como cada pessoa, cada casal, cada história é única, também é a jornada pela FIV. Além disso, nem na FIV e nem na vida conseguimos garantias, mas a experiência nos mostra que a perseverança e a resiliência, aliada a possíveis ajustes de trajeto, podem aumentar significativamente as chances de sucesso em tentativas subsequentes.
Se você está se preparando para uma segunda tentativa, lembre-se de que você já é vitoriosa por ter a força para caminhar até aqui, e que há muitas histórias de sucesso que começaram exatamente onde você está agora. Não perca a esperança e continue acreditando no seu sonho de ser mãe. Você não está sonhando sozinha! Estamos juntas!
Glossário:
Ciclo de FIV: Cada ciclo de FIV inclui a estimulação dos ovários, a coleta de óvulos, a fertilização deles em laboratório e a transferência dos embriões resultantes para o útero.
Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE): Uma das organizações mais respeitadas em reprodução humana, que reúne profissionais de diversos países, oferecendo dados e orientações sobre tratamentos de fertilidade.
Estimulação ovariana: Uso de medicamentos hormonais para estimular os ovários a fornecerem múltiplos folículos e óvulos, aumentando as chances de obter embriões viáveis.
Qualidade dos embriões: Refere-se à saúde e viabilidade dos embriões, seja por critérios morfológicos e/ou genéticos.
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